quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Pastel, farofa e arroz feijão




Olá a todos!

 


 


            Pela primeira vez em 3 meses finalmente estou sentindo a maior das diferenças entre o Brasil e a Noruega: o clima. Agora, o frio e a neve chegaram mesmo e noto de que modo eles afetam o dia-a-dia das pessoas. O gelo que se deposita na estrada atrapalha o trânsito – nem mesmo o sal jogado no asfalto por tratores da prefeitura consegue tornar a estrada mais segura. Muitos carros e caminhões patinam, às vezes até deslizando para os canteiros, as pessoas têm que se munir de uma pá e escavar a neve para desobstruir suas garagens e varandas. Pela manhã temos que raspar a grossa camada de neve dos vidros e do capô do carro para podermos sair. Meus amigos no Brasil vivem a me perguntar se eu agüento o frio, se não congelo e não fico gripada o tempo todo. Entendo que é assustador ouvir que está 2 graus negativos e nevando sem parar, para quem veio de um lugar onde a temperatura média é + 20 graus.


 


Mas, aqui, há toda uma infra-estrutura para se proteger do frio. Toda construção, seja ela casa, loja, banco, correio, supermercado tem aquecimento elétrico. São placas afixadas à parede que emitem ar quente e aos poucos aquecem todo o ambiente. O problema é que tais aquecedores consomem muita energia elétrica. Para não deixar o calor escapar, temos que manter as portas e janelas fechadas. Recentemente, surgiu um equipamento chamado ‘varmepumpe’ (bomba de calor), que é bem mais econômico. É exatamente como um aparelho de ar condicionado que, sozinho, bombeia ar quente para a casa toda, dispensando, assim, os aquecedores elétricos de parede instalados em cada cômodo e também o forno à lenha. Nós adquirimos um varmepumpe, mas ainda não o instalamos, pois o Morten precisará da ajuda de seu pai para fazer a instalação. Aqui é o país do ‘faça você mesmo’. Se você compra móveis, você mesmo tem que transportá-los e montá-los. Os próprios moradores pintam suas casas, fazem reparos de encanamento e eletricidade. A não ser que seja um caso muito complicado, aí chamam um profissional e preparam o bolso. Nós também estamos planejando pintar e redecorar a entrada de nossa casa. Aos pouquinhos vamos fazendo pequenas melhorias e implantando nosso estilo à casa.


 


Voltando ao assunto frio, as roupas aqui também são muito apropriadas para agüentar as baixas temperaturas. Segunda-feira, eu fui trabalhar no museu cedinho e, em vez de usar calça e blusa de lã por baixo da roupa (iria passar calor dentro do museu, onde é tudo aquecido), resolvi estrear meu ‘kjeledress’, que é um macacão pesado revestido por um tecido grosso e bem quente e impermeável por fora. O meu é vermelho e preto, parecido com este:


 



 



 


Ele é para ser usado por cima da roupa, então quando cheguei ao museu, foi só tirar. Acredite, não há neve e frio que consiga passar por aquele macacão. Tudo bem que ele não é a peça favorita para se usar quando se sai, mas, aqui, o que importa é se proteger do frio. Minha chefe falou que o kjeledress é o traje típico da ilha, hehe. É super normal usá-lo para caminhar, ir ao supermercado, ao banco. Se estiver quente, basta abrir o zíper da parte superior, tirar as mangas e amarrá-las em volta da cintura. Eu achei ótimo e prático.



 


 


Explicando o porquê do título do post de hoje, é que eu fiz arroz, feijão, farofa e pastel aqui! A vovó do Morten nos deu uma panela de pressão antiga, mas excelente (e pensar que me disseram que aqui era impossível de se achar panela de pressão - ganhei uma da avó do Morten, vai entender) e eu comprei um pacote de feijão numa loja de produtos iranianos em Trondheim. Sem exagero, foi um dos melhores feijões que já comi. A farofa eu já tinha feito no Ano Novo, com a farinha de mandioca que trouxe na mala. E o pastel nós fizemos no sábado passado. Meu amor fez a massa (que leva aguardente, quem diria!) e recheamos uns com carne moída e outros com queijo. Ficou quase igual ao das feiras de São Paulo. Esperávamos que fosse ficar gostoso, mas ficou melhor do que jamais imaginamos. Assim sendo, não tem como sentir falta de comida brasileira a ponto de se ficar triste e desesperado. Conseguem-se achar praticamente todos os ingredientes e sempre é possível fazer adaptações.


 


Não há muitas novidades sobre os preparativos do casamento. Agora estamos cuidando basicamente de papelada, mudança de nome e visto. Só de pensar que teremos que travar uma nova batalha com a UDI novamente, me dá um frio na barriga. Mas, como gato escaldado tem medo de água fria, já estamos armados com tudo quanto é papel, formulário, email e o que mais for preciso para evitar imprevistos. Minha chefe propôs que eu desse aulas de inglês para a filha dela que está tendo dificuldades na escola. Fiquei super contente com o convite, faz 3 meses que eu não dou uma aulinha e já estava com saudade. Aliás, vou tentar dar uma aula pelo Skype para um ex-aluno meu do Brasil, estou curiosa pra ver como será. Falando em aula, acabei o primeiro livro do curso de norueguês! Comecei a estudar sozinha no Brasil. Fazia as lições, escaneava e o Morten corrigia pra mim. Escutava os CDs e repetia frase por frase. Aqui eu continuei fazendo o mesmo, sempre com meu amor corrigindo e estudando comigo. Nem acredito que cheguei ao final do primeiro livro. Agora vêm mais 3 pela frente. Mas, se Deus quiser logo terei a autorização para freqüentar o curso de norueguês na escola de adultos, mal posso esperar!


 


Para terminar (até que enfim!), só queria fazer um pequeno relato do que tem aparecido nas notícias e na TV daqui. Um caso que tem estampado jornais, noticiários e mesas redondas é o da presidente do Sindicato Trabalhista norueguês, Gerd-Liv Valla, que foi denunciada por uma ex-funcionária por tê-la “perseguido” no trabalho, com comentários, fofocas e piadas. Este fenômeno, chamado de mobbing é muito comum e tratado seriamente em escolas e ambientes de trabalho. A imprensa acompanhou o caso tão de perto que a presidente teve que pedir desculpas em rede nacional, embora digam que ela não teve a intenção real de pedir desculpas, que o fez somente por que não tinha outra saída. Outro caso em evidência foi o julgamento dos assaltantes do banco NOKAS em Stavanger, onde um policial foi morto. Todos foram condenados, exceto um. Mas, o juiz não aceitou a absolvição deste réu e ele será julgado novamente.


 


Aqui também há “reality shows”. Um que eu estou acompanhando chama-se “Farmen”, e tem um conceito muito interessante. Os participantes têm que ficar confinados em uma fazenda norueguesa do começo do século, e viver exatamente como se vivia naquela época. Sem geladeira, eles têm que conservar a comida que eles mesmos têm que obter (pescando, ordenhando vacas, abatendo animais, etc.) à moda antiga, e têm que cuidar de toda a fazenda, reformar, cuidar dos bichos. Toda semana eles têm uma tarefa e, se a cumprirem, ganham dinheiro, fazem uma viagem ao mercado local (que também é reconstruído à moda do começo do século passado) e podem comprar mantimentos, batatas, etc. Pelo menos neste programa eles realmente trabalham, não ficam falando sobre futilidades e tomando sol na beira da piscina o dia inteiro como o Big Brother Brasil.


 


Amanhã vou fazer um bate-volta em Trondheim e vou ficar com minha sogrinha, já estou com saudade. Adoro ficar com ela e conversar , tenho certeza que ela me dará uma grande ajuda com os preparativos pro casamento.


 


Boa semana e até a próxima!


 

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