terça-feira, 13 de julho de 2010

Minha nada mole vida de imigrante - uma saga sem data para terminar

Acabo de chegar da polícia e posso finalmente respirar aliviada - tenho em mãos meu passaporte com o visto permanente colado. Este é o desfecho de uma batalha longa, cansativa e que nos deixou em estado de tensão durante quase um mês inteiro.

Tudo começou em março, quando nós compramos as passagens pro Brasil. Geralmente é mais barato comprar com antecedência e além do mais eu tinha certeza de que meu visto sairia antes da viagem, em agosto próximo. Para garantir que meu visto sairia a tempo, dei entrada nos papéis no final de março, quando na verdade poderia ter dado entrada no final de maio. A policial que me atendeu disse que não haveria problemas e que meu visto sairia antes de agosto. Na Noruega não é permitido que imigrantes viajem para fora da Noruega enquanto esperam por um visto.

No início de junho meu marido telefonou para a polícia só para saber como estava o andamento do processo. Para nossa total decepção, a atendente ficou até chocada com a pergunta: "Vocês deram entrada no visto em março e já esperam que ele seja concedido? Impossível, o processo costuma demorar de 7 a 9 meses." Preocupados pelo fato de não receber o visto como estávamos esperando, o Morten resolveu escrever uma carta à polícia solicitando que meu requerimento tivesse prioridade. Como justificativa, ele escreveu que eu não fui ao Brasil ano passado quando meu avô faleceu por motivos financeiros e que havia esperado até agora para poder ir. Enviamos a carta e dois dias depois veio a resposta: meu requerimento não teria prioridade por que o motivo não era plausível o suficiente. Ficamos muito chateados, a nossa tão esperada viagem ao Brasil parecia que não iria se realizar. Eu não tive coragem de contar para o meu pai.

Mas, meu marido não se conformou com essa resposta e telefonou para a polícia novamente. Ele conseguiu falar com o funcionário que assinou a decisão e expôs todos os motivos e dificuldades que tivemos ano passado e que impossibilitaram minha ida ao Brasil em ocasião do falecimento do vovô - não havíamos vendido a casa, eu acabara de começar em um novo emprego, faculdade, etc. Um outro motivo citado foi o fato de que meu visto sempre vence exatamente no meio de junho, e como eu tenho que dar entrada em abril/maio, acabo sempre tendo que ficar na Noruega para esperar a decisão. Junho, julho e agosto são os meses de férias de verão por aqui e para o meu marido também é difícil tirar férias em outros meses do ano. O funcionário pareceu ter compreendido melhor o nosso caso. Ele sugeriu que o Morten enviasse uma outra carta pedindo que o caso tivesse prioridade novamente. Depois de quatro horas de trabalho, a carta ficou pronta e a enviamos. Dois dias depois recebi um telefonema da polícia: meu visto havia sido concedido e eu teria que entregar meu passaporte na polícia. Na terça-feira passada entreguei meu passaporte e acabo de recebê-lo com o visto permanente colado.

Porém, isso não significa que minha saga de imigrante tenha chegado ao fim. Meu passaporte vence em abril do ano que vem e por isso vou ter que solicitar uma nova etiqueta no novo passaporte quando renová-lo. Além do mais, tenho que me apresentar à polícia a cada 2 anos para provar que ainda moro na Noruega. Em dezembro posso entrar com pedido de cidadania norueguesa se eu quiser e creio que vou acabar fazendo isso, pois recebi confirmação da embaixada brasileira aqui que é permitido ter dupla cidadania. O bom de se pedir a cidadania é que eu posso viajar para fora da Noruega enquanto espero o visto sair e com passaporte norueguês não vou precisar me apresentar na polícia a cada 2 anos. Ainda vou ter que pegar muita fila e driblar a burocracia dos dois países até regularizar minha situação de imigrante. Essa vitória eu devo primeiro a Deus e ao meu marido jornalista que escreveu cartas impecáveis e conseguiu convencer o funcionário da UDI. Eu jamais teria conseguido sozinha.

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